Sou médico fisiatra desde 2017 e sempre acreditei que a medicina deve ir além de prescrever apenas medicamentos: ela precisa restaurar movimento, função e qualidade de vida. Foi com essa missão que recentemente palestrei no Curso Internacional Avançado de Tratamentos por Ondas de Choque de 2025, onde compartilhei minha experiência clínica com duas condições comuns: a Capsulite Adesiva (o chamado “ombro congelado”) e a Síndrome do Túnel do Carpo.
Mais do que apresentar conceitos, mostrei como ciência, tecnologia e humanidade se encontram quando aplicamos corretamente a Terapia por Ondas de Choque (TOC) e os procedimentos guiados por ultrassonografia.
Capsulite Adesiva (Ombro Congelado): mais comum do que se imagina
Contei a história de um paciente de 53 anos que acordou com dor no ombro esquerdo sem nenhum trauma aparente. Em poucos meses, já não conseguia levantar o braço, vestir uma camisa ou dormir sem dor. Essa é a queixa clássica da Capsulite Adesiva, uma condição caracterizada por inflamação da cápsula articular do ombro, levando à fibrose e rigidez progressiva.
Durante o curso, apresentei dados importantes:
● Afeta principalmente mulheres entre 40 e 60 anos.
● Pode estar associada a diabetes mellitus em até 20% dos casos, além de doenças cardiovasculares, tireoidianas, Parkinson, AVC e períodos de imobilização prolongada.
● Divide-se em primária (idiopática) e secundária (pós-traumática, pós-cirúrgica ou associada a doenças sistêmicas).
As três fases principais são:
1. Fase Inflamatória (3 a 9 meses): dor difusa, pior à noite e com movimento, acompanhada de perda inicial da mobilidade.
2. Fase de Rigidez ou Congelamento (4 a 6 meses): dor começa a reduzir, mas a rigidez se torna predominante, com perda acentuada da amplitude.
3. Fase de Descongelamento (5 a 24 meses ou mais): ocorre recuperação gradual da mobilidade, lenta e nem sempre completa.
O diagnóstico é essencialmente clínico, mas exames como radiografia e ressonância magnética ajudam a descartar outras causas e mostram espessamento capsular e inflamação.
Mostrei como intervenções integradas podem mudar a história da doença, utilizando um protocolo com:
● Viscossuplementação peritendínea e intra-articular guiada por ultrassom.
● Bloqueio seriado do nervo supraescapular.
● Sessões de Ondas de Choque Focais.
● Fisioterapia ativa orientada.
O paciente relatou 95% de melhora da dor e 70% de recuperação da mobilidade em poucas semanas — um resultado que evidencia o poder da abordagem integrada e personalizada.
Síndrome do Túnel do Carpo: quando as mãos perdem a força
Compartilhei também o caso de uma paciente com dormência e dor nas mãos há anos. Acordava à noite, precisava sacudir as mãos e já não tinha firmeza ao segurar objetos — sintomas típicos da Síndrome do Túnel do Carpo, causada pela compressão do nervo mediano no punho.
Principais fatores de risco:
● Movimentos repetitivos do punho.
● Diabetes mellitus (risco até 90% maior).
● Obesidade, gravidez, hipotireoidismo e artrite reumatoide.
Sintomas frequentes:
● Formigamento e dormência no polegar, indicador, médio e metade do anelar.
● Dor noturna que desperta o paciente.
● Em casos graves, fraqueza e atrofia da musculatura tenar.
O diagnóstico é clínico e confirmado por eletroneuromiografia e ultrassonografia. Em minha prática, utilizei:
● Hidrodissecção guiada por ultrassom do nervo mediano, com melhora de 70% da dor e 100% da dormência.
● Ondas de choque aplicadas em 3 sessões semanais, com recuperação significativa da força e sensibilidade.
O que fez desse curso diferente
Durante o evento, compartilhei pontos que considero fundamentais na medicina regenerativa e intervencionista moderna:
● Segurança e precisão da ultrassonografia em todos os procedimentos.
● Integração de técnicas — TOC, bloqueios, infiltrações e fisioterapia.
● Foco em regeneração tecidual e neural, indo além do alívio da dor.
● Resultados mensuráveis em casos reais, reforçando a confiança na medicina baseada em evidências.
Conclusão
Subir ao palco e apresentar essas experiências foi mais do que um marco profissional — foi reafirmar que a medicina de reabilitação tem o poder de devolver liberdade e movimento aos pacientes.
A Terapia por Ondas de Choque, quando aplicada com ciência, precisão e personalização, pode transformar vidas e restaurar o que parecia perdido: o prazer de se mover sem dor.
É essa união entre tecnologia, ciência e empatia que me inspira diariamente como fisiatra — dentro e fora do consultório.